Aos 19 anos, Amadeo adora videogames e carros velozes. Sonha ser piloto de Fórmula 1. É virgem, mas a namorada está disposta a resolver a questão, sob certas condições. Tem uma mãe ansiosa; seu melhor amigo quer convencê-lo a entrar para o Corpo de Bombeiros. Enfim, toda a vida pela frente. Mas, certa noite na estrada, um caminhão destrói o carro que ele dirige e altera radicalmente o futuro do rapaz. Amadeo sobrevive em meio às ferragens retorcidas, mas quando volta do coma está preso a um corpo que já não age nem reage. Imóvel. Acompanhe gente também no Instagram, onde você pode receber várias dicas de viagem e conhecer paisagens incríveis! É só clicar AQUI!
Ao seu redor, estão a mãe, os médicos, o capitão dos bombeiros que o salvou, a namorada Julia, o amigo Tomás. Tentam interagir com o rapaz imobilizado, trafegando entre a frágil esperança e a dor da realidade. Baila em volta do rapaz o alter-ego/duplo Clóvis, projeção da consciência que discute e provoca. E, pouco a pouco, cresce a possibilidade de que Amadeo escolha deixar a prisão do corpo.
“A pergunta central é mesmo até onde temos a liberdade de escolher e dirigir a própria vida”, considera o diretor Nelson Baskerville. “Cada um vai acompanhar e avaliar as escolhas dos personagens de seu ponto de vista, refletindo e não simplesmente reagindo”. Amadeo, de Côme de Bellescize, estreou em 2012 no Théâtre de la Tempête, em Paris. Baseia-se num caso real, o do jovem Vincent Humbert, que ficou tetraplégico, além de cego e mudo depois de um acidente automobilístico. Movendo apenas o polegar direito, conseguiu escrever um livro com o jornalista Frédéric Veille – Eu peço o direito de morrer. A repercussão foi tão grande que se proibiu na França o excesso terapêutico, permitindo ao paciente o uso de cuidados paliativos e até o direito de parar alguns tratamentos.
Foi a atriz e diretora franco-brasileira Janaína Suaudeau, formada no Conservatório Nacional de Paris, que se empenhou em trazer para o Brasil a peça de Bellescize, que ela assistiu na estreia parisiense. “De muitas maneiras fiquei impactada pela montagem – pelo lado pessoal, pela coragem e habilidade do autor ao tratar temas-tabu, pela reflexão em nível individual e coletivo que Amadeo provoca no espectador”, comenta. “Traduzi o texto com a colaboração de Clara Carvalho e minha personagem, Julia, representa a juventude, a descoberta da sexualidade em contraste com a desaceleração física de Amadeo – mas em circunstâncias muito frágeis; ela não dá conta do que houve com o namorado, e acaba se atropelando”. Para Janaína, o mais impressionante no trabalho de Bellescize é a “capacidade que sua dramaturgia tem de oferecer da sociedade uma visão caleidoscópica, panorâmica”.
Dois planos
Elaborado como uma “peça-sonho, à maneira de Strindberg”, com cenas curtas e cortes rápidos, como define o diretor Nelson Baskerville, Amadeo combina imagens oníricas e diálogos imaginários com a dura realidade, desenvolvendo-se em dois planos. Clóvis, o amigo imaginário – uma referência ao serviçal Clov do Fim de Jogo, de Beckett -, age de modo lúdico-violento para traduzir e sacudir conflitos, reflexões e sentimentos internos de Amadeo. “O teatro é o espaço desse véu, dessa intermediação com a realidade para que a possamos suportar, resistir e elaborar”, pondera Baskerville.
Também Ionesco, em sua peça Amedée, é evocado: ali, um casal discute o que fazer com um cadáver no quarto contíguo. “Bellescize claramente utiliza muitas inspirações; o personagem de Ionesco é um morto entre vivos, de certa forma a condição do Amadeo”. Mas Amadeo, sem perspectiva de melhora, consegue se comunicar precariamente com dois dedos e decide morrer. “Existe uma coisa viva dentro dele. A ligação com o bombeiro que o resgata é particularmente bonita – ele quer convencê-lo a viver. Quem está à volta de Amadeo é obrigado a repensar as razões para estar vivo, enfim”, prossegue o diretor. “E vejo a aceitação dessa mãe no centro de tudo, o ponto de gravidade da peça”.
“No jogo dos dois planos, um pouco como em Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, há o plano real e o imaginário do rapaz, traduzido por Clóvis, que tenta fazer com que Amadeo sobreviva – ou mesmo viva -, de forma lúdica e às vezes violenta”. Também artista plástico, Baskerville aponta alguns nomes como referência nessa montagem: “Marcel Dzama e Gisèle Vienne, e também forte inspiração no pintor irlandês Francis Bacon, pelas distorções com que ele trata sua obra”.
O cenário de Marisa Bentivegna se abre, a princípio, no canto de videogame na casa de Amadeo. Depois do acidente, passa a remeter aos elementos do hospital, com utilização de efeitos de projeções de vídeomapping. “No primeiro momento trazemos a adrenalina, a emoção do videogame de velocidade que Amadeo adora, através da animação em 3D”, diz André Grynwask, que assina com Pri Argoud a arquitetura de projeções da peça. “Já na segunda parte, depois do acidente, usamos videomapping para ambientar uma viagem dentro da mente do rapaz. É delicado, complicado e desafiador trabalhar o espaço da arena, para que o público tenha uma experiência de caráter tridimensional”.
O diretor: Nelson Baskerville
Nelson Baskerville nasceu em 1961 em Santos/SP; ator, diretor e autor teatral, premiado com o Shell 2011 de melhor direção por Luis Antonio-Gabriela, espetáculo que também ganhou o APCA do mesmo ano como melhor espetáculo, entre outros. Foi indicado ao Shell em 2013 (direção e iluminação de As estrelas cadentes do meu céu são feitas de bombas do inimigo) e em 2017 (direção de Eigengrau de Penelope Skinner); em 2018, dirigiu Os 3 Mundos de Fabio Ba e Gabriel Moon, sucesso de público no Teatro Popular do Sesi.
Diretor-fundador da AntiKatártiKa Teatral (AKK) dirigiu em 2005, Camino Real de Tennessee Williams e 17 X Nelson – o Inferno de todos nós; em 2007, dirigiu o grupo do Teatro Oficina de Portugal na peça Dublin Carol (Cântico de Natal), de Conor McPherson, na cidade de Guimarães. Em 2012, estreou 4 espetáculos como diretor – 17 X Nelson – Parte 2 – Se não é eterno não é amor; Os 7 Gatinhos e A Falecida (de Nelson Rodrigues) e Brincando com Fogo de August Strindberg, apresentado em Estocolmo no mesmo ano.
Formado pela EAD (Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo) em 1983 e graduado em Licenciatura em Teatro pela Uni-Ítalo, trabalhou como ator e assistente de direção de Fauzi Arap nos anos 1980, quando integrou a premiada montagem de Uma lição longe demais, de Zeno Wilde. Com o grupo TAPA fez A Megera Domada, Solness, o Construtor e Senhor de Porqueiral (1989-1991); integrou também o Núcleo dos Dez de Dramaturgia, coordenado por Luis Alberto de Abreu. Foi professor do Teatro Escola Célia-Helena por 19 anos. Em 2008, adaptou e dirigiu Por que a criança cozinha na polenta” de Agaja Veteranyi, com20 prêmios em 12 festivais pelo Brasil incluindo melhor direção, adaptação e trilha sonora). Com a sua cia AntiKatártiKa Teatral, adaptou e dirigiu A Vida, 1 Gaivota – É Impossível Viver sem Teatro – de Tchekhov e A Geladeira de Copi.
É também artista plástico. Em televisão atuou na minissérie Maysa e nas novelas Viver a Vida e Em Família, ambas de Manoel Carlos com direção de Jayme Monjardim, e nas séries O Negócio, da HBO, Carcereiros de Eduardo Belmonte e Onde está meu coração para a Rede Globo.
O autor: Côme de Bellescize
Aos 43 anos, o autor e diretor francês Côme de Bellescize vem se destacando numa carreira premiada na dramaturgia e na direção de teatro e ópera. Formado como ator na Escola Claude Mathieu, criou a cia Théâtre du Fracas com o ator Vincent Joncquez. Com Les Errants (Os Errantes), ganhou o Prêmio Paris Jovens Talentos 2005 (Prix Paris Jeunes Talents); dirige em seguida As Crianças do sol (Les Enfants du soleil) de Maxime Gorki no Théâtre de l’Ouest Parisien e no Théâtre 13, em Paris, e Ah! Annabelle… de Catherine Anne no Théâtre Nanterre-Amandiers.
Escreveu e dirigiu Amédée, que estreou em 2012 no Théâtre de la Tempête, em Paris. Foi indicado como Melhor Autor no Prêmio Beaumarchais do Figaro. Em agosto do mesmo ano, ele dirigiu sua primeira ópera, o oratório Joana d’Arc na fogueira, de Honneger/Paul Claudel no Festival de Seiji Ozawa, Saito Kinen Matsumoto (Japão), regida por Kazuki Yamada. Em 2013, remonta Amédée no Teatro 13/Seine e, em seguida, dirige Viardot, a liberdade no Festival de Aix en Provence, e em junho de 2014, La Scala di Setta de Rossini.
Em 2015, sua produção de Joana d’Arc na Fogueira, com Marion Cotillard no papel principal, na França (Nouvelle Philharmonie, com Kazuki Yamada e a Orquestra de Paris) e em Nova York, no Lincoln Center, com Alan Gilbert e a New York Philharmonic – o espetáculo foi considerado um dos dez melhores do ano. Ele dirige também Béatrice et Bénédict de Berlioz, sob a direção de Seiji Ozawa no Festival Saito-Kinen Matsumoto, em agosto 2015. Em novembro de 2015, ele dirige seu texto, Eugénie, no Théâtre du Rond-Point em Paris; em 2016, Soyez vous même com a companhia du Fracas e, em 2018, Fat, criação para – o Théâtre de l’Éphémère. Em 2020, ganha o prêmio de jovem autor da Academia Francesa e encena sua Le bonheur des uns, “uma comédia corrosiva”.
Ficha técnica:
Amadeo de Côme de Bellescize. Direção: Nelson Baskerville. Assistente de direção: Anna Zêpa. Tradução: Janaína Suaudeau. Colaboração: Clara Carvalho. Elenco: Thalles Cabral, César Mello, Chris Couto, Claudia Missura, Janaína Suaudeau e Thomas Huszar. Música original: Marcelo Pellegrini. Cenografia: Marisa Bentivegna. Iluminação: Wagner Freire. Figurinos: Marichilene Artisevskis. Visagismo: Marcos Padilha. Maquiagem para fotos: Ale Toledo. Direção de Imagem e Videomapping: André Grynwask / Pri Argoud. Produção executiva: Patrícia Galvão e Maurício Belfante. Designer gráfico: Cassia Buitoni. Identidade Visual:Ieda Romera e Geninho. Fotografia: Gal Opido. Textos: Luciana Medeiros. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Idealização: Janaína Suaudeau. Realização: Ponto de Produção / Patricia Galvão.
Serviço:
Amadeo – Estreia dia 10 de março de 2023 no Tucarena.
Rua Bartira, 347 – Perdizes, São Paulo/SP Capacidade: 250 lugares.
Temporada: de 10 de março a 28 de maio de 2023. Sextas e sábados às 20h30. Domingos às 18h.
Duração: 1h30.
Recomendação etária: 16 anos.
Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia entrada para estudantes e idosos, portadores de necessidades especiais, professores da rede pública). Estudantes e professores da PUC: R$20
Pela internet: Sympla
(aceita todos os cartões de crédito)
Horários de funcionamento da bilheteria: De terça a sábado das 14h às 20h Domingos das 14h às 18h
Formas de pagamento: Amex, Aura, Diners, Dinheiro, Hipercard, Mastercard, Redeshop, Visa e Visa Electron.
Estacionamentos indicados: MultiPark: Rua Monte Alegre, 961 – R$25,00
MJS Serviços / Valet – Sextas, sábados e domingos, R$35,00
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