As palavras guiam a Ocupação Maria Bethânia em um olhar único sobre a vida da artista, no Itaú Cultural

Visual e sensorial, a mostra ganha ares de instalação ocupando dois andares do Itaú Cultural. São espaços distintos e complementares que aproximam o visitante do universo criativo e particular de Bethânia, valorizando sua estreita relação com a palavra e com a potência cultural do Recôncavo Baiano. Acompanhe a gente também no Instagram, onde você pode receber várias dicas de viagem e conhecer paisagens incríveis! É só clicar AQUI!

Foto: Fabiano Antunes / Rota1976.com

Fotos e imagens documentais são os alicerces da Ocupação, onde é possível estabelecer um contato diferenciado com a personalidade da cantora.

No dia 13 de março, às 20h, o Itaú Cultural (IC) abriu a primeira mostra da série Ocupação em 2024 – é a 62ª do projeto iniciado em 2009. Com curadoria do Núcleo de Curadorias e Programação Artística do IC e da diretora Bia Lessa, além de pesquisa audiovisual de Antônio Venâncio, ela é dedicada a Maria Bethânia e tem como tema Bethânia e as palavras.

A força da palavra e da literatura na vida da cantora, a extraordinária presença da família Velloso, com sua fé, sua alegria, seu rigor e sua liberdade, somadas à riqueza cultural do Recôncavo Baiano, criam o universo que compõe essa mostra. O Recôncavo é uma região localizada perto de Salvador composta por um núcleo de cidades, da qual Santo Amaro faz parte, conhecida por seu sincretismo religioso, por seu apego as tradições e por ser uma região de onde saíram expoentes da cultura brasileira como Maria Bethânia, Caetano Velloso, Emanuel Araújo, Roberto Mendes, entre outros.

Foto: Fabiano Antunes / Rota1976.com

Lançando um olhar poético e novo sobre a vida desta baiana nascida em Santo Amaro há 77 anos, em 1946, a mostra permanece em cartaz até 9 de junho. Ela se estende do piso térreo – com 98 fotos que representam diferentes aspectos do ambiente social de onde surgiu a artista – ao primeiro andar do IC, este ocupado por uma instalação composta de 47 monitores com imagens documentais de diferentes períodos da obra e vida de Bethânia e de seu estreito diálogo com a poesia e a literatura, por meio do contato com Vinicius de Moraes, Ferreira Gullar, Sophia de Mello Breyer, Arnaldo Antunes e Fernando Pessoa, entre outros. A produção tem duração de 1h45min com imagens em looping, propondo ao visitante que abandone o tempo imposto pela agitação da Avenida Paulista e se permita usufruir de um outro tempo-espaço.

Foto e Acervo – Ana Basbaum (cedida pela Assessoria de Imprensa do Itaú Cultural)

Para firmar sua relação com a linguagem, a Ocupação Maria Bethânia ainda apresenta os bordados Rotas do Abismo e O Céu de Santo Amaro, nos quais a artista exprime através de linhas, agulhas e tecido sua intimidade com a palavra – dando forma ao que em sua profissão é som. Esses bordados inéditos fazem parte de uma série realizada durante a pandemia. O valor do trabalho está no rigor estético e na artesania presente em toda sua obra.

Foto: Fabiano Antunes / Rota1976.com

A mostra não pretende dar conta da cronologia da obra e vida da artista. Há todo um cuidado artístico no modo de exibição das 98 fotografias neste piso, afinal, não se pode retratar essa artista de forma convencional. As imagens não estão fixadas nas paredes, eles flutuam pela sala suportadas por cabos de aço até a altura do público. Pendem do teto em roldanas, contrapesadas com sacos de terra que representam a de Santo Amaro e observadas na horizontal. Há todo tipo de imagem saída de arquivos diversos, que constituem um caleidoscópio no qual vida e obra se fundem. Sua família, sua infância e adolescência, com os seus pais Dona Canô e Zezinho, com os irmãos, amigos pequenos, festas e Carnaval já em sua juventude. Além de fotos de shows – umas conhecidas do público, outras não —, têm de suas viagens, de momentos de descanso, ela em suas casas em Salvador e em Santo Amaro. Tem ela bordando, preparando Nossa Senhora da Purificação para a procissão em sua terra Natal e seguindo o cortejo a Iemanjá na capital baiana. É Maria Bethânia em sua totalidade.

Foto e Acervo – Ana Basbaum (cedida pela Assessoria de Imprensa do Itaú Cultural)

Para cada imagem há uma frase, refletida no chão, criando um contraponto entre o que se vê e o que se escreve. Assim, os pensamentos de escritores, compositores e poetas – como Waly Salomão, Clarice Lispector, Álvaro de Campos e outros –, que acompanham estas imagens, dançam no solo. O ambiente é envolto em paisagem sonora que remete ao marulho do mar e à sua música, em uma atmosfera que dialoga com a carreira de Bethânia e com quem ela é pessoalmente. A instalação pode ser observada à distância, de perto e de muito perto, permitindo ao espectador diferentes formas de apreensão. Nada é obvio na artista, nada é desvendado por inteiro, mas tudo faz parte de um único universo criado por ela a partir de sua gente.

Foto e Acervo – Ana Basbaum (cedida pela Assessoria de Imprensa do Itaú Cultural)

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