Romero Ferro faz show gratuito no Sesc Santo Amaro, dia 25 de outubro

Coração rasgado, corpo elétrico em brasa, ferro derretido. Se há uma imagem adequada para definir a abertura
da nova fase do cantor e compositor pernambucano Romero Ferro, ela está explícita na capa e no encarte de seu
segundo álbum, Ferro, pela arte de Tomaz Alencar sobre fotos de Lana Pinho. Efeitos de luz néon, figurinos e um
colorido cítrico e intenso remetem à new wave da década de 1980, que também está na base da sonoridade do
álbum, bem distinta do anterior, Arsênico (2016). “Esse é um trabalho em que realmente permiti que meu coração
fosse aberto de forma muito honesta, falando sobre meus sentimentos, minha sexualidade, meus posicionamentos
políticos sem medo”, diz Romero.

Foto: Assessoria de Imprensa (Divulgação) – Bieco Garcia

Nascido em Garanhuns, interior de Pernambuco, Romero vem de família tradicional e teve uma criação rígida.
“Esse coração de ferro simboliza isso. Eu estava ali meio duro, e agora estou me deixando mergulhar mais e falando
da minha vida, do que eu sou. A gente precisa sofrer pra aprender certas coisas. O que não posso é perder a vontade de mergulhar e viver as coisas intensamente”, diz esse fã do “exagerado” Cazuza. Essas revelações dão o tom libertário do álbum, tanto nas letras das canções quanto na sonoridade sem fronteiras. Amor e dor, o corpo e o
prazer são as hastes de sua bandeira.

Referências

Em porções acentuadas de funk, rock e r&b, com Arsênico (produzido pelo baixista e guitarrista carioca Diogo
Strausz, com co-produção do pianista e tecladista pernambucano Amaro Freitas) Romero abriu nova trilha no pop
na vertente brega, que expande consideravelmente no segundo álbum. Repleto de hits potenciais, este é bem
mais eletrônico e dançante (ainda que o primeiro também o fosse), com maior diversidade rítmica e grande soma
de referências que incluem David Bowie, Kraftwerk, Depeche Mode, Reginaldo Rossi, Ritchie, axé music, tecnopop, reggaeton, bolero, house, tecnomelody, funk, pagode, trap e Zezé di Camargo & Luciano.

Foto: Assessoria de Imprensa (Divulgação) – Bieco Garcia

Cantando melhor e mais seguro agora, Romero acelerou em sua autopista artística sem limite de velocidade
como expoente masculino de maior potencial nesse estilo, que alguns chamam de “brega wave”. Ele – que sentiu,
mas superou, certo desdém até do próprio meio artístico por não seguir certas tradições pernambucanas – prefere “tropical wave” por ser mais abrangente. Se no álbum anterior (gravado em poucos dias) ele assinou sozinho todas as composições, neste – produzido por Leo D. (tecladista do Mundo Livre S.A.) e com direção artística do DJ e produtor Patricktor4 (nascido baiano e cidadão do mundo) ao longo de um ano e meio – ele amplia o conceito de trabalho em colaboração. Uma das faixas (“Quando Ele Perguntar por Mim”) foi produzida por Benke Ferraz (guitarrista da banda goiana de rock psicodélico Boogarins) e gravada em duo com Otto.

Em cinco das nove composições autorais e inéditas, Romero conta com parceiros: os conterrâneos Barro, Duda
Beat e Leo D. (também responsável pela mixagem e masterização do álbum), além do paraense Felipe Cordeiro. Há
também uma reinterpretação estilosa de “Você Vai Ver” (Elias Muniz e Carlos Colla), lançada por Zezé di Camargo e
Luciano em 1994, que remete à infância de Romero. Além de Otto, Duda Beat (outra expoente da brega wave), a
cantora trans Mel (Banda Uó) e o rapper gay baiano Hiran dividem os vocais com ele em outras duas canções.
Ao melhor estilo “pense e dance”, “Fake” toca na questão da ostentação, da mentira e da superficialidade da
comunicação visual propagada nas redes sociais com uma evidente citação de “Let’s Dance” (1983), de David
Bowie. A abolerada “Quando Ele Perguntar por Mim” também tem como tema o fingimento e a mentira numa
relação entre homens. “Love por Você” é um ijexá pop com cara de carnaval baiano, resultado de uma estadia de
Romero em Salvador numa festa de Iemanjá. “Tolerância Zero” (Barro, Felipe Cordeiro e Romero Ferro) é um
manifesto contra a ignorância que recai sobre o que foge dos padrões, pela irreversível soberania da diversidade
de toda forma de amor.

O aprimoramento estético é também resultado de muitos encontros com outros artistas contemporâneos nos
bastidores de festivais de música pelo Brasil, dos quais Romero vem participando e surpreendendo. Patricktor4,
sempre antenado sobre tudo do universo musical, desde linguagens sonoras até questões de mercado, é uma
dessas personalidades com quem ele vinha trocando ideias desde 2017, “um aprendendo muito com o outro”, e,
junto com o empresário e diretor Mauricio Spinelli, o incentivou a circular mais. “A gente sabe que existe no Brasil uma dificuldade muito grande de se compreender pop e de se trabalhar música comercial de uma maneira bem feita, arrojada, mesmo tendo potencial gigantesco para isso. Os americanos, ingleses e suecos fazem isso muito bem. A experiência que eu trago do Pará, por ter trabalhado com Felipe Cordeiro e indiretamente com Gaby Amarantos, por ter contribuído ali para estruturar a cena, me deram suporte para arriscar a fazer esse trabalho com Romero”, diz Patrick. “Partimos de algo que eu imaginava que era a cara dele. Encontrei a intersecção entre o brega e a new wave, que é tanto estética em termos de timbragens quanto é de temática, dessa novela latina que fica falando do amor
incompreendido, de dor-de-cotovelo, da saudade. Isso está na new wave também muito forte. Sugeri a ele fazer
esse encontro que é super ousado”, prossegue Patrick, que cunhou o termo brega wave, mas prefere “onda
nova” para essa fusão.

Serviço:

Sesc Santo Amaro
Data: 25 de outubro (sexta-feira)
Hora: 19h15
End.: Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro, São Paulo-SP
Ingressos: não é necessária a retirada e o controle será feito por ordem de chegada

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